O céu do Sertão sempre foi mais do que um firmamento estrelado; é testemunha de reviravoltas, encontros e despedidas que moldaram a política pernambucana. Sob esse mesmo céu, entre o calor seco e os horizontes vastos, um novo capítulo se desenha. No próximo domingo (30), os ventos do Pajeú soprarão novamente, anunciando a chegada de João Campos a Afogados da Ingazeira. Um retorno que não é apenas geográfico, mas carregado de simbolismo e história.
A juventude do prefeito do Recife contrasta com o peso de seu sobrenome. João Campos não desembarca apenas como gestor promissor; pisa no solo sertanejo como herdeiro de uma tradição política que fincou raízes profundas no imaginário popular. Seu bisavô, Miguel Arraes, e seu pai, Eduardo Campos, deixaram marcas indeléveis nessa terra de resistência e sonhos. E os sertanejos, sempre atentos, nunca foram apenas espectadores. Sabem reconhecer lideranças, sabem medir intenções, sabem quando a política é feita de gestos ou de verdade.
O Cine São José abrirá suas portas para o Congresso do PSB, um encontro que ultrapassa a formalidade partidária. O espaço, testemunha de tantos debates, será mais uma vez palco para discursos e articulações que ecoarão além das paredes do auditório. João Campos caminha pelos corredores da memória coletiva, onde a lembrança de Eduardo ainda ressoa forte. Mas o tempo passou, e os desafios de agora são outros. A governadora Raquel Lyra constrói seus caminhos, traça estratégias, busca consolidar sua posição. Enquanto isso, João avança pelos interiores, refazendo laços, preparando o terreno.
Afogados da Ingazeira, tem na sua história um entrelaçar de narrativas com as famílias Arraes e Campos. José Patriota, ex-prefeito e ex-presidente da AMUPE, foi um dos alicerces dessa relação, e será homenageado no congresso estadual do PSB. Sua ausência se fará presente, como tantas outras que marcaram essa caminhada. Mas a política, como a vida, é feita de ciclos, e o que se desenha agora tem um tom de déjà vu para os mais experientes.
Nos tempos de Eduardo, alianças eram seladas sob a sombra das barracas de feira, discursos inflamados ressoavam entre os morros e os rios secos. João segue os passos, mas com um novo tempo, um novo desafio. Seu retorno ao Sertão será mais do que uma agenda política. Será um teste. Um termômetro. Um sinal de como a legenda que tanto marcou Pernambuco se reposiciona no cenário estadual. E, principalmente, de como ele próprio se projeta para os embates que virão.
Os ventos do Pajeú sempre carregaram mensagens. No domingo, mais uma página será escrita. Entre abraços e promessas, entre discursos e expectativas, fica a pergunta: qual será o recado que soprará dessa terra que nunca deixou de ser protagonista na política pernambucana?