A política de Serra Talhada segue fervendo, com os vereadores Ronaldo de Dja (Podemos) e Zé Raimundo protagonizando movimentos que expõem as contradições e a imprevisibilidade do cenário local. Em um tabuleiro político onde alianças se desfazem e se reconstroem rapidamente, suas decisões têm gerado questionamentos sobre coerência e lealdade.

Ronaldo de Dja: da crítica ao retorno ao bloco governista

Ronaldo de Dja (Podemos), reeleito vereador pela coligação liderada por Miguel Duque e Marquinhos Godoy, protagonizou uma reviravolta política em Serra Talhada que tem dado o que falar. Durante a Festa de Setembro de 2023, o vereador gravou um áudio em um grupo de WhatsApp criticando duramente o evento, afirmando que havia se tornado “uma festa de rico”, elitizada e distante da participação popular. O áudio vazou e gerou ampla repercussão, culminando em um rompimento público e incisivo por parte da prefeita Márcia Conrado, que o acusou de deslealdade e praticamente o expulsou da base governista.

Após o episódio, Ronaldo migrou para o bloco oposicionista liderado pelo ex-prefeito Luciano Duque, onde chegou a ter seu nome cogitado como uma possível aposta para disputar a prefeitura contra Márcia nas eleições de 2024. Contudo, o líder opositor optou por lançar como candidatos seu filho, Miguel Duque, e seu primo, Marquinhos Godoy, para encabeçar a chapa contra a prefeita, que acabou reeleita.

Com a vitória de Márcia Conrado, Ronaldo iniciou uma movimentação de aproximação estratégica com o governo. Ele passou a participar de atos institucionais e eventos promovidos pela gestão municipal, justificando sua presença como uma busca pelo diálogo e pelo que fosse “bom para Serra Talhada”, ao mesmo tempo em que negava qualquer retorno à base governista.

Essa postura ambígua ganhou novos contornos nos últimos dias. Surpreendentemente, após uma reunião com Luciano Duque, Miguel Duque e Marquinhos Godoy, reafirmando seu vínculo com a oposição, Ronaldo foi fotografado em um jantar na noite de ontem ao lado de Márcia Conrado, do vice-prefeito Faeca Melo, do esposo da prefeita, Breno Araújo, e do vereador Zé Raimundo. Entre risadas, muita comida e bebidas, um aperto de mão entre Ronaldo e a prefeita Márcia simbolizou um gesto que muitos interpretaram como o “bater do martelo” em uma aliança reestabelecida com o governo.

A imagem rapidamente circulou nas redes sociais, gerando especulações sobre o rompimento definitivo de Ronaldo com a oposição e sua possível reintegração ao bloco governista, o que ainda não foi oficialmente confirmado pelo vereador, mas é visto por muitos como inevitável.

Zé Raimundo: críticas ferozes e aparições contraditórias

Já Zé Raimundo optou por um rompimento mais direto e ruidoso. Em discurso carregado de indignação, ele anunciou sua saída da base governista, denunciando promessas não cumpridas e a falta de respeito dentro da administração.

“Essa é uma decisão de homem, não de político. No governo, palavra tem que ser honrada, e respeito precisa existir”, declarou Zé Raimundo, ao usar a tribuna da Casa de Leis da Capital do Xaxado. (Lembre aqui)

Contudo, sua presença no mesmo jantar que reuniu Ronaldo e Márcia levantou questionamentos sobre a solidez de sua decisão. Se o discurso indicava um rompimento claro, a prática de aparecer ao lado de lideranças governistas sugere algo mais ambíguo, colocando em xeque sua narrativa de independência.

Bastidores em ebulição

As movimentações de Ronaldo de Dja e Zé Raimundo são emblemáticas de um cenário político local marcado pela imprevisibilidade e pela constante reconfiguração de alianças. O jantar, que simbolizou tanto tensões quanto possíveis reconciliações, expôs as contradições de uma classe política que, ao que parece, privilegia a sobrevivência no jogo do poder em detrimento da coerência perante o eleitorado.

Ronaldo enfrenta o desafio de justificar sua aparente mudança de postura, enquanto Zé Raimundo precisará sustentar o discurso de ruptura. Para ambos, a credibilidade política está no fio da navalha,