O Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e do Ministério Público Eleitoral (MPE), está investigando um esquema de abuso de poder político e econômico nas eleições municipais de 2024 em Floresta. A investigação aponta que Maria Cristiane Silva Lopes e Janaína Correia Souza de Moura Maniçoba utilizaram programas sociais e contratações públicas para beneficiar a chapa de Rosângela Maniçoba (Rorró) e Beatriz Numeriano (Bia), eleitas para a gestão municipal.

Uso do Bolsa Família para influenciar votos

Relatórios obtidos pelo MPPE indicam que as investigadas manipularam a inclusão e exclusão de beneficiários do Bolsa Família e do Cadastro Único (CADÚnico) para garantir apoio eleitoral. Mensagens extraídas dos celulares de Maria Cristiane e Janaína revelam que eleitores eram favorecidos com benefícios sociais em troca de votos, enquanto opositores corriam o risco de perder o auxílio.

Em um dos diálogos interceptados, Maria Cristiane menciona que, caso um eleitor “pedisse muita coisa”, seu benefício poderia ser bloqueado. O material coletado também demonstra que cestas básicas e outros auxílios eram oferecidos a eleitores em troca de apoio.

Contratações abusivas de servidores em ano eleitoral

Outro ponto central da investigação são as contratações irregulares de servidores públicos, realizadas sem processo seletivo e direcionadas a aliados políticos. De acordo com o Ministério Público, houve um aumento significativo no número de contratações antes das eleições, com o objetivo de favorecer a campanha de Rorró e Bia.

Além disso, funcionários da administração municipal foram pressionados a comparecer a eventos políticos da chapa, sob risco de retaliações. Uma das mensagens encontradas nos celulares investigados indica que quem não demonstrasse “compromisso com a campanha” poderia sofrer consequências. Em um dos trechos, a orientação é clara: “Muito importante deixar como prioridade os eventos de campanha daqui pra frente. Quem não tem compromisso conosco, a recíproca será aplicada”.

Perseguição política a servidores da saúde

A ação do Ministério Público também evidencia a devolução de servidores estaduais cedidos à saúde municipal, onde trabalhavam há mais de 20 anos. Esses servidores, que não geravam custos aos cofres municipais, foram removidos de seus postos após o período eleitoral.

O MPPE aponta que a medida caracteriza perseguição política, uma vez que os servidores devolvidos exerceram livremente seu direito ao voto e não cederam às pressões da gestão municipal para apoiar a chapa governista.

Ação pode levar à cassação da chapa eleita

Diante das evidências, o Ministério Público Eleitoral ingressou com uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), solicitando a cassação do mandato de Rosângela Maniçoba (Rorró) e Beatriz Numeriano (Bia). Segundo a promotora responsável pela ação, “os atos são abomináveis e merecem a punição com o rigor da lei de todos os envolvidos”.

Se condenadas, as envolvidas podem se tornar inelegíveis, além de perderem os cargos conquistados na eleição de 2024. O caso segue em tramitação na Justiça Eleitoral e novas diligências podem ser realizadas.