O fim de tarde da última sexta-feira foi marcado por mais um capítulo da crescente tensão institucional em Pernambuco. A Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), presidida por Marcelo Gouveia — aliado político da governadora Raquel Lyra (PSD) —, divulgou nota pública criticando, sem citar nomes, projetos de lei que tramitam na Assembleia Legislativa e que preveem isenção do IPVA para determinadas categorias de veículos. Segundo a entidade, caso aprovadas, as propostas poderão retirar cerca de R$ 500 milhões dos cofres municipais, comprometendo a prestação de serviços essenciais à população.
A reação da Alepe foi imediata e direta. Em nota oficial, a Casa Legislativa acusou a Amupe de atuar como braço político do Palácio do Campo das Princesas, e não como defensora autônoma dos interesses dos municípios. “A entidade deveria cumprir seu papel institucional e não servir de instrumento do Governo”, alfinetou a Alepe, presidida por Álvaro Porto (PSDB), parlamentar com trânsito livre no entorno do prefeito do Recife, João Campos (PSB).
Marcelo Gouveia não deixou por menos e devolveu no mesmo tom: “A Amupe faz o jogo dos municípios, não de governos. Defender a arrecadação municipal é defender o povo das cidades”.
Nos bastidores, a troca de farpas é lida como reflexo de um confronto mais amplo entre forças políticas que já ensaiam o embate de 2026. De um lado, João Campos, que vem consolidando uma base robusta na Alepe, com influência direta sobre parlamentares de diversos partidos. Do outro, Raquel Lyra, que tenta manter coesão entre prefeitos aliados e articula resistência silenciosa à ascensão do socialista — tido hoje como principal nome da oposição estadual.
Enquanto isso, a Comissão de Constituição, Legislação e Justiça da Alepe se prepara para analisar os projetos na próxima terça-feira. A presidente da comissão, deputada Débora Almeida (PSDB), também alinhada a Raquel, já adiantou que o debate será técnico, mas não esconde a preocupação com a repercussão política da pauta. “Isenção sem compensação é populismo fiscal”, disparou.
A disputa sobre o IPVA, que deveria se restringir ao campo tributário, acabou se transformando em mais um flanco da guerra fria travada entre Executivo e Legislativo estadual — e, por tabela, entre Raquel e João.
Isenção de IPVA acirra queda de braço entre Alepe e Amupe e expõe embate velado entre João e Raquel
Related posts

Publicidade

Buscar
Outras Notícias
Siga nossas redes