A prefeita Márcia Conrado usou o palanque festivo dos 174 anos de Serra Talhada para pregar união e rebater os que chamou de “profetas do apocalipse”. No entanto, enquanto as palavras da gestora ecoavam sob aplausos, na Câmara Municipal o tom era outro: um verdadeiro tiroteio verbal dentro da própria base governista, revelando desalinho político, ruídos de comunicação e insatisfação represada.

O episódio mais contundente veio do vereador de oposição Antônio de Antenor, que fez duras críticas à secretária de Saúde, Lisbeth Rosa, cobrando sua demissão. Antenor foi direto ao ponto: apontou falta de medicamentos essenciais nas unidades básicas, denunciou atrasos na licitação de insumos e afirmou que a população está sofrendo.

“O povo quer a saída da secretária. Eu sou povo, e estou apenas dizendo o que me pedem nas ruas”, disparou. Ele também colocou em dúvida a continuidade de cirurgias na Clínica São Francisco.

Mas o que mais chamou atenção foi que as críticas não partiram apenas da oposição. O vereador China Menezes, da base governista, também não poupou o governo. Cobrou atenção urgente à infraestrutura do Vila Bela, lamentou a ausência de respostas da secretária de Serviços Públicos, Simone Daniel, e acrescentou: “Secretário que não tem voto nenhum e ainda é incompetente total? Já estouramos o limite. Quem leva o cacete é a prefeita, por causa da incompetência dos seus secretários”.

China ainda reconheceu o trabalho da empresa terceirizada Piemonte, dizendo que, sem ela, Serra Talhada estaria mergulhada no caos. Ao falar de Simone, foi categórico: “Ela só tem o rótulo de incompetente”.

Em meio à turbulência, o líder do governo na Câmara, Gin Oliveira, partiu para o embate. Denunciou o que chamou de “fiscalização para projeção pessoal” e acusou parlamentares de mudar de discurso conforme a conveniência política. “Nunca existiu independência aqui. Ou é base ou está sendo beneficiado pela oposição”, alfinetou, sem citar nomes, mas com endereço certo – na minha opinião, André Maio.

Gin saiu em defesa da prefeita e de sua legalidade administrativa. Rechaçou boatos de suspensão de cirurgias na Clínica São Francisco. O vereador também anunciou uma nova postura: só votará favoravelmente em requerimentos de fiscalização feitos por comissões formais, criticando vereadores que “invadem secretarias com celular na mão”.

A prefeita, coincidentemente ou não, reuniu seu secretariado no fim do dia — oficialmente para tratar da programação do aniversário da cidade. Mas nos bastidores, o encontro soou como um freio de arrumação forçado pelos ecos da sessão plenária.

A comunicação institucional fala em entregas, momento histórico e conquistas. Já os microfones da Câmara escancaram rachaduras internas, com vereadores aliados dispostos a romper o silêncio.

No aniversário de Serra Talhada, o presente mais visível foi o retrato de uma gestão que, apesar da agenda com show musicais e entregas, começa a enfrentar sua crise de coesão. A tão falada unidade parece, hoje, mais próxima de uma Torre de Babel, onde cada liderança fala uma língua, e o entendimento comum se perde no ruído dos confrontos internos.