Em meio a uma enxurrada de críticas à grade de programação do São João de Serra Talhada que neste ano trouxe nomes como Zé Felipe e Zezé Di Camargo; o secretário executivo de Comunicação da Prefeitura, César Kaíque, publicou um desabafo contundente em seu perfil no Instagram, questionando o processo de descaracterização das tradições nordestinas nas festas juninas.

“Nosso São João, que sempre foi uma das maiores celebrações da nossa identidade nordestina, vem sofrendo um processo preocupante de descaracterização”, escreveu o secretário. Ele destacou que elementos típicos da festa, como as bandeirolas, as fogueiras e o som da sanfona, têm perdido espaço para “modismos passageiros”, movidos por interesses comerciais e políticos.

A fala chama atenção não apenas pelo conteúdo, mas pelo contexto em que foi publicada. Kaíque tem atuação destacada na gestão da prefeita Márcia Conrado (PT), especialmente no núcleo responsável pela organização dos eventos do município. Seu posicionamento, portanto, foi interpretado por muitos como uma crítica direta à própria condução da festa pela gestão municipal da qual ele é, ou pelo menos era, um dos principais articuladores.

Procurado pelo blog, César Kaíque respondeu de forma breve ao ser questionado sobre sua participação na comissão organizadora das festividades deste ano: “Deve ter outras pessoas mais capacitadas pra fazer”, limitou-se a dizer.

TEXTO NA ÍNTEGRA PUBLICADO EM SEU PERFIL NO INSTAGRAM

Bem falando a verdade nosso, São João que sempre foi uma das maiores celebrações da nossa identidade nordestina, vem sofrendo um processo preocupante de descaracterização. Aos poucos, as tradições que marcaram gerações estão sendo deixadas de lado. As ruas já não ganham tantas bandeirolas coloridas, as fogueiras estão mais raras e o som da sanfona, que embalava noites inteiras de forró, cede espaço a estilos musicais que nada têm a ver com a nossa história.

O que antes era motivo de ansiedade para as crianças — esperar os fogos, os balões, o milho assado e as quadrilhas — agora se transforma em uma lembrança distante. A cultura de um povo está nos seus símbolos, na sua música, na sua forma de celebrar. Mas o que estamos vendo é a troca das nossas raízes por modismos passageiros, embalados por interesses comerciais e por decisões políticas que, por medo de desagradar, acabam incentivando o esvaziamento cultural.

Os verdadeiros mestres da música nordestina, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos e tantos outros, hoje são tratados como peças de museu, ocupando espaços secundários nas programações juninas. Os forrozeiros autênticos, que sempre foram protagonistas dessa festa, estão sendo colocados em horários de menor visibilidade, enquanto ritmos alheios dominam os grandes palcos, muitas vezes com o aval de quem deveria proteger e valorizar nossa cultura.

Se não houver uma reação coletiva, o que restará para as próximas gerações será um São João sem alma, sem história e sem significado. Precisamos defender aquilo que nos pertence, que foi construído com esforço e com amor ao longo de décadas. A cultura nordestina é resistência, é memória viva. E é nosso dever garantir que ela continue sendo celebrada com a força e a autenticidade que merece.

César Kaique – Cidadão Serratalhadense.