A ausência de quórum mínimo no plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) voltou a provocar tensão entre deputados da base governista e da oposição, nesta terça-feira (3). A sessão, que deveria apreciar proposições importantes como o projeto do Executivo que concede reajuste ao piso salarial dos profissionais da educação estadual, foi interrompida por falta de parlamentares presentes — eram necessários, ao menos, 25 deputados em plenário.

O episódio gerou reações imediatas. O deputado Júnior Matuto (PSB) criticou duramente a ausência dos governistas. “É obrigação de quem levanta a bandeira do compromisso com o povo pernambucano fazer algo pela educação”, declarou, apontando para o impacto da paralisação na tramitação do reajuste salarial dos professores.

Do outro lado, o deputado Renato Antunes (PL) rechaçou as críticas da oposição e atribuiu a responsabilidade pela obstrução ao próprio PSB. “É só observar no painel. Falam que foi manobra, mas eu espero que não seja, porque é uma prática ultrapassada e não condiz com a responsabilidade desta Casa”, argumentou. Segundo ele, a governadora Raquel Lyra “agiu com respeito” ao enviar o projeto, que já havia sido aprovado pelas comissões pela manhã. Ele destacou que a proposta reduz distorções na carreira, beneficiando educadores com mais tempo de serviço e maior escolaridade.

Antunes aproveitou ainda para criticar a gestão do prefeito João Campos no Recife, cobrando coerência dos sindicatos. “Paulista e Jaboatão deram reajuste de mais de 6%. Se esses municípios estão aplicando o piso, por que a ‘capital do Nordeste’ não valoriza a educação?”, questionou.

A discussão sobre ausências continuou com o deputado Romero Albuquerque (PP), que apresentou um levantamento do painel de presença. “A base do governo tem 19 ausentes, o que representa 51% das ausências, enquanto a oposição tem cinco entre seus 19 membros. Foi citado o número do PSB, mas esqueceram do PP”, pontuou.

Clima de polarização

Diante do impasse, parlamentares do PT tentaram apaziguar os ânimos e defenderam o diálogo como saída para o bloqueio nas votações. O deputado João Paulo (PT) fez um apelo para que governo e oposição superem as disputas. “Essa Casa tem que cumprir o papel dela de votar em caráter de urgência não só o reajuste dos servidores da educação, mas também projetos significativos que estão aqui”, disse.

João Paulo citou ainda outros temas travados por falta de consenso, como a sabatina do novo administrador de Fernando de Noronha e a nomeação da presidência da Adagro.

O líder petista também saiu em defesa do deputado federal Glauber Braga (PSOL), que enfrenta processo de cassação após um episódio de confronto com um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) no Congresso Nacional.

Eleições antecipadas e prejuízo ao povo

Para o deputado Doriel Barros (PT), a crise de articulação entre Executivo e Legislativo tem raízes na antecipação da corrida eleitoral. “Eleição é só no próximo ano, antecipar a eleição está prejudicando este parlamento e o povo”, afirmou. Ele criticou a desarmonia entre os poderes e pediu maturidade política: “Nós precisamos assumir, o problema não é só da governadora, o problema é nosso também. Temos que ter a capacidade de sentar na mesa com o Governo do Estado para discutir.”

Barros também destacou a visita de representantes do Instituto Federal de Salgueiro, que apresentaram iniciativas voltadas ao fortalecimento da apicultura no Sertão pernambucano — tema que, segundo ele, deveria estar na pauta de um parlamento que pensa no desenvolvimento do Estado.

Enquanto o impasse persiste, professores da rede estadual aguardam a aprovação de um reajuste que já ganhou parecer favorável nas comissões, mas esbarra na instabilidade política da Alepe.